Alguns ângulos nossos não vemos tão facilmente
Durante muito tempo briguei contra a minha delicadeza. Sempre gosto mais quando me chamam de braba, firme, durona, porque “bonito mesmo é ser forte”. Agi, por muito tempo da minha vida, querendo ser reconhecida só pela minha força. E me sentindo mal quando a sensibilidade se mostrava sem que eu permitisse.
Até que um dia, escrevendo a legenda de uma foto minha com Lenine, após uma aula sensacional que ele ofereceu num curso sobre processo criativo (sim, posso dizer que Lenine, o cara, foi meu professor), me dei conta de algo: o que mais admiro nele é a união da delicadeza e da potência. O cara consegue reunir força de tambor e guitarra, ao mesmo tempo que encanta com detalhes suaves no meio da parada. Daí comecei a pensar em outras figuras que acho incríveis, como Nina Simone, Clarissa Pinkola Estés, Frida Kahlo, Clarice Lispector, que têm essa mesma mistura de potência e delicadeza, força e sensibilidade.
E por que não reconheço beleza nessa mesma mistura em mim?
Com a percepção que veio dessa história, junto às leituras, estudos e aprofundamentos que tenho feito sobre vulnerabilidade, entrega, autenticidade, comecei a fazer as pazes com minha delicadeza, sensibilidade e doçura. Meu ascendente em câncer começou a ser mais aceito pelo meu sol em capricórnio e lua em áries (entendedores entenderão).
Porém, pasmei ainda mais ao perceber que no meu trabalho a doçura, a sensibilidade e a delicadeza já eram plano de frente faz tempo. Revendo vídeos meus, por exemplo, vejo que ali aparece muito mais da Juliana doce e sensível – e isso me incomoda, sabia? A Juliana doce escapa, no tom de voz e nas palavras que saem. E por outro lado, comecei a observar que na linha de frente do que mostro, não costuma aparecer o tanto da força e irreverência que são tão evidentes para quem convive comigo de perto. Na minha vida pessoal, sempre quero ser mais o lado forte, irreverente, sem regra, sem margem – e escondo a Juju Delicadinha no calabouço. No profissional, a Juliana delicada, sensível, quem sabe até “fofa”, é quem narra a história. Cada uma escolheu um departamento e eu achando que sabia o que estava acontecendo. É uma cilada, Bino!
Agora, estou aqui rindo e achando um barato descobrir essa trama paralela, quase de novela de gêmeas. Com a diferença de que nenhuma delas é Ruth ou Raquel, nem Paola ou Paulina. As duas têm seus encantos e belezas, as duas podem caminhar juntas sem precisar sufocar nem disputar com a outra. Ufa! Agora, estou aqui reunindo as Julianas para caminharem juntas e darem espaço uma à outra. Está tudo bem, podemos ser como somos. Não há porque escolher um lado. O tempero das nossas muitas faces reunidas torna tudo mais interessante.
Para que estou contando tudo isso?
Para dizer, primeiro, que a gente muitas vezes não faz ideia da imagem que está deixando transparecer, das coisas que escapam, das coisas que estão por dentro nos controlando e a gente acha (só acha) que está controlando alguma coisa. Sim, eu não fazia ideia dessas minhas divisões até que elas pularam na minha cara. Rá!
E também para levantar a reflexão:
– O que você mostra? O que você esconde?
– O que você “acha” que mostra? E o que “acha” que esconde?
– Que temperos você tem deixado de fora?
Sim, eles podem ser o que anda faltando para dar sabor único ao que você entrega. E com certeza, sua mensagem será mais autêntica se você estiver autenticamente presente. Bonito mesmo é ser tudo que a gente é.
Então, me conta aqui nos comentários: o que você escolhe aceitar e mostrar para o mundo, a partir de agora, um passo de cada vez?
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